O valor do dólar subiu significativamente em relação ao real brasileiro na sexta-feira, alcançando R$5,3247 na venda. Isso ocorreu em resposta ao forte desempenho da moeda norte-americana no exterior, após dados do mercado de trabalho dos EUA sugerirem que o Federal Reserve fará apenas um corte de juros em 2024. Além disso, os investidores estão desconfortáveis com a situação fiscal no Brasil.
O dólar à vista encerrou o dia com uma alta de 1,44%, o maior valor de fechamento desde 5 de janeiro de 2023, quando foi cotado a R$5,3527. Na semana, a moeda acumulou uma elevação de 1,40%.
O contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subiu 1,53%, a R$5,3505 na venda, às 17h59 na B3.
O relatório payroll dos EUA indicou que foram abertas 272.000 vagas de emprego fora do setor agrícola em maio, bem acima dos 185.000 postos de trabalho projetados por economistas. Isso levou a uma leitura de que o Federal Reserve não terá espaço para cortar juros duas vezes ainda este ano, mas apenas uma vez.
Em reação, o rendimento do Treasury de dez anos aumentou e o dólar ganhou força ante as demais divisas, incluindo o real. Isso ocorreu porque, com juros mais elevados nos EUA, o diferencial de taxas do Brasil se tornará menor, limitando a capacidade do país atrair capital.
Antes da divulgação do payroll, o dólar à vista marcava a cotação mínima de R$5,2411 (-0,16%). Com a divulgação dos dados, o dólar renovou os picos do dia, e o movimento de alta continuou durante a tarde, em meio ao desconforto dos investidores com o cenário fiscal no Brasil.
Operadores ouviram que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria sinalizado a possibilidade de mudanças no atual arcabouço fiscal durante uma reunião com representantes do banco Santander em São Paulo. Isso levou a uma reação negativa no mercado.
Em meio aos rumores e ao desconforto em relação à questão fiscal, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) dispararam perto do fim da sessão, com o acionamento de ordens de stop loss (parada de perdas). O dólar à vista atingiu o pico do dia, de R$5,3295 (+1,53%), às 16h14.
Enquanto os ativos brasileiros eram afetados negativamente, Haddad concedia entrevista a jornalistas em São Paulo, defendendo a medida provisória enviada ao Congresso que restringe a compensação de créditos tributários. Segundo ele, a resistência contra a MP vai se dissipar conforme haja maior compreensão da intenção do governo de reduzir gastos tributários.
Haddad também afirmou que o governo poderá eventualmente fazer um contingenciamento de despesas orçamentárias no ano para assegurar o cumprimento das regras fiscais.
Numa segunda conversa com jornalistas, Haddad descartou a possibilidade de alteração do arcabouço fiscal, afirmando que um participante da reunião com o Santander vazou uma informação falsa, o que ele qualificou como “muito grave”.
Com o mercado à vista já fechado, o dólar futuro para julho reagiu ao desmentido de Haddad, perdendo força momentaneamente, mas voltando a acelerar as altas antes do fechamento.
No exterior, o índice do dólar subiu 0,79%, a 104,930.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.